APRESENTAÇÃO DO SITE E HOMENAGEM DA ALITA AOS PAIS





O menino e o mar
Cyro de Mattos*

Era a primeira vez
Que tinha ido ver o mar.
Todo alegre, de calção,
Peito nu e pé no chão.

Quando viu tanta água
Fazendo barulho
Sem parar, disse:

– Pai, me dê sua mão.

* O poema " O menino e o Mar" foi um dos vencedores do 5º Concurso Poético
Cancioneiro Infanto-Juvenil para a Língua Portuguesa, Almada, Portugal.


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DOIS POEMAS PARA O MEU PAI
                     Renato Prata

   Mimese
    
De outrem pelo feitio
Não me pertence este gesto.
Com a propriedade dos que são únicos
Só meu pai o faria.

Dou-lhe forma por imitação
Inconsciente do feito
Flagra-se-me o gesto todavia
Quando já o tenho a meio
Nele o pai reconhecível
A completá-lo de fato

Sou não sou quem o fez
Preso à armadilha genética.

Quem vai plagiar
Meu desconcerto?

   
                 Um outro do mesmo
  
Quem é o tal que desconheço
E que imita o meu pai
A passar-se por mim?
Cuida iludir as pessoas
Como é do seu ofício
Mas posso encará-lo no espelho.

Noto a semelhança fatigada
O olhar que finge ser astuto
O disfarce e a lástima...

Não estou pronto para saber
Quem se põe atrás da máscara
Mas sei que está insatisfeito
E quer desistir de mim.

(De A Pulseira do tempo.                         Ilhéus, Mondrongo, 2012)

***


PRIMEIROS PASSOS
Ceres Marylise
Recordo minha mão tão pequenina,
sendo mais forte segurando a do meu pai
que sustentava meus primeiros passos.

Levantava os meus olhos cristalinos,
pedindo sem palavras... nem precisava;
o auxílio aos meus começos inseguros.

Ele, orgulhoso e feliz, longe do mundo,
punha seu dedo forte, um somente,
suficiente para evitar qualquer tropeço.

Depois fui eu, adulta - mãe e pai,
segurando mãos roliças, pequeninas,
que me buscavam no início de seus passos.


Assim, são os laços entre pais e filhos:
esse círculo sem fim de nossas vidas
que nos permite o destino de ser pais.

E são esses momentos singulares
que hoje voltaram à minha lembrança,
 e eu nem pensava ter guardado seus detalhes.
 
 ***




NESTOR PASSOS, MEU PAI
Carlos Eduardo Passos

Natural da atual cidade de Saubara, pequeno rincão do recôncavo baiano, Nestor Passos, filho de José Nilo Mendes da Silva e Etelvina Eulália Passos da Silva, estudou inicialmente com sua gestora, e mais tarde, no Seminário Central da Bahia " Santa Teresa", dali saindo padre secular.

Exerceu o vicariato na paróquia N.S. Das Vitórias, cidade de Conquista, onde ao lado de intelectuais Camilo de Jesus Lima e Padre Palmeira, movimentava a vida intelectual da urbe. Fundou o colégio N. S. das Vitórias, hoje Colégio Diocesano de Conquista. Fez trabalhos topográficos de reconhecimento histórico naquela área fisiográfica da Bahia.

Em 1940, aporta em Itabuna para instalar um curso propedêutico, filiado ao de Conquista e aqui exerceu concomitantemente os cargos de Capelão da Santa Casa de Misericórdia e pároco da Igreja Santo Antonio. Em outubro de 1952 fundou o Colégio Comercial de Itabuna onde cinco gerações se formaram em Contabilidade e Administração.

Atuante na vida pública, participou de vários empreendimentos desta cidade, inclusive no campo da radiodifusão, cooperativismo e político: foi vereador pelo Partido Social Democrático em 1946, suplente de Deputado Estadual em 1950 e por três vezes, candidato ao cargo de prefeito. Ocupou o cargo de Diretor Regional de Integração - CERIN e foi Secretário Municipal de Educação nas gestões de Alcântara e Fitermann. Foi membro ativo do Rotary Club de Itabuna, da Loja Maçônica Areópago Itabunense e da Academia de Letras de Ilhéus.

Homem de coragem e serena altivez, não tinha inimigos e era querido por todos pelo seu bondoso coração.

Querendo contrair núpcias defendeu tese na Sé Vaticana sobre a dispensabilidade do celibato, no que obteve êxito.

Exímio professor de Latim, Português e Lógica e foi um grande orador sacro e profano.

Deixou as seguintes obras: PRINCÍPIOS DE ESTILÍISTICA e PANTEÍSMO DE BARUCH SPINOSA.

Faleceu em 11 de junho de 1991.